quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
sábado, 14 de fevereiro de 2015
Fernando Pessoa - Carta a Ofélia
Meu
Bebé pequeno e rabino:
Cá
estou em casa, sozinho, salvo o intelectual que está pondo o papel nas paredes
(pudera! havia de ser no tecto ou no chão!); e esse não conta. E, conforme
prometi, vou escrever ao meu Bebezinho para lhe dizer, pelo menos, que ela é
muito má, excepto numa coisa, que é na arte de fingir, em que vejo que é
mestra.
Sabes?
Estou-te escrevendo mas não estou pensando em ti. Estou pensando nas saudades
que tenho do meu tempo da caça aos pombos; e isto é uma coisa, como tu sabes,
com que tu não tens nada…
Foi
agradável hoje o nosso passeio — não foi? Tu estavas bem-disposta, e eu estava bem-disposto,
e o dia estava bem disposto também (O meu amigo, não. A. A. Crosse: está de
saúde — uma libra de saúde por enquanto, o bastante para não estar constipado).
Não
te admires de a minha letra ser um pouco esquisita. Há para isso duas razões. A
primeira é a de este papel (o único acessível agora) ser muito corredio, e a
pena passar por ele muito depressa; a segunda é a de eu ter descoberto aqui em
casa um vinho do Porto esplêndido, de que abri uma garrafa, de que já bebi
metade. A terceira razão é haver só duas razões, e portanto não haver terceira
razão nenhuma. (Álvaro de Campos, engenheiro).
Quando
nos poderemos nós encontrar a sós em qualquer parte, meu amor? Sinto a boca
estranha, sabes, por não ter beijinhos há tanto tempo… Meu Bebé para sentar ao
colo! Meu Bebé para dar dentadas! Meu Bebé para… (e depois o Bebé é mau e
bate-me…) «Corpinho de tentação» te chamei eu; e assim continuarás sendo, mas
longe de mim.
Bebé,
vem cá; vem para o pé do Nininho; vem para os braços do Nininho; põe a tua
boquinha contra a boca do Nininho… Vem… Estou tão só, tão só de beijinhos…
Quem
me dera ter a certeza de tu teres saudades de mim a valer. Ao menos isso era
uma consolação… Mas tu, se calhar, pensas menos em mim que no rapaz do
gargarejo, e no D. A. F. e no guarda-livros da C. D. & C.! Má, má, má, má,
má…!!!!!
Açoites
é que tu precisas.
Adeus;
vou-me deitar dentro de um balde de cabeça para baixo para descansar o
espírito. Assim fazem todos os grandes homens — pelo menos quando têm — 1º
espírito, 2º cabeça, 3º balde onde meter a cabeça.
Um
beijo só durando todo o tempo que ainda o mundo tem que durar, do teu, sempre e
muito teu
Fernando
(Nininho)
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
Poema do mês de fevereiro: "O Amor"
O AMOR, quando se
revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Fernando Pessoa
Livro do mês de fevereiro: “Todas as palavras de amor”
Numa
viagem em busca de si mesma, Alice escreve a primeira de muitas cartas a um
grande amor. Não imagina que, na morada para onde envia as cartas, vive
António, um homem que nunca viu. O homem recebe a primeira carta e as palavras
daquela mulher que também não conhece, confrontam-no com aquilo de que sempre
fugira.
Alice
é uma mulher divorciada à procura do seu próprio rumo. António é um padre que
nunca ousou trilhar o caminho do amor. Todas
as Palavras de Amor é um romance que começa com a surpresa de um engano.
Depois, em páginas de uma escrita fulgurante, aprendemos que um engano talvez
seja a melhor forma de modificar duas vidas para sempre.
Ana
Casaca tem 39 anos e é natural de Lisboa. Licenciou-se em Direito, mas sempre
soube que era
na escrita que residia a sua verdadeira vocação. Troca as leis
pelas letras e, em 2002, inicia-se no guionismo pela mão de Manuel Arouca, que
a convida a integrar a equipa de escrita da telenovela Filha do Mar (TVI, 2002).
Participou na escrita de Baía das Mulheres (TVI, 2005), Tu
e Eu (TVI, 2007), Podia Acabar o
Mundo (SIC, 2008), Rosa Fogo
(SIC, 2011) e Bem-vindos a Beirais
(RTP, 2013-2014). Adaptou, com Tomás Múrias, o guião para a série O Regresso a Sizalinda (RTP, 2006). Integra
a equipa de argumentistas da sequela de Jardins
Proibidos (TVI, 2014).
É autora dos romances A Vontade de Regresso
(2002), Todas as Palavras de Amor
(2013) e Viagem ao fim do coração (2014).
Filme do mês de fevereiro: "O ABC do amor"
Woody Allen apresenta inúmeras
histórias hilariantes que exploram os assuntos mais melindrosos da sexualidade:
afrodisíacos fazem efeito num bobo da corte que encontra a chave para o coração
da Rainha - mas descobre que a chave para o cinto de castidade seria mais útil;
um bom médico torna-se loucamente atraído por uma ovelha tresmalhada; Jack
Barry faz 20 perguntas fetiche num louco programa de TV chamado «Qual é a Minha
Perversão?»; a investigação sexual é vista à lupa quando um desvairado
cientista liberta uma monstruosa, incontrolável besta; e o absurdo chega a um
eléctrico climax com Tony Randall…
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