sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Poema do mês de dezembro: "Chove. É dia de Natal"

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal.
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.


Fernando Pessoa

Livro do mês de dezembro: “Um Natal que não esquecemos”

Este romance conta-nos a história de uma família vulgar, pessoas ligadas por laços de amor que, numa simples noite, são afetadas por acontecimentos que inteiramente as ultrapassam, fazendo delas, no espaço de poucas horas, seres que não existiam até então. Na antevéspera de Natal, Laura e Elliot comemoram mais um aniversário de um casamento particularmente feliz, com um jantar romântico perfumado pelos sabores e aromas sugestivos da cozinha italiana. No regresso a casa, o carro sofre uma avaria num túnel de Boston e, enquanto aguardam que os tirem dali, Laura é acometida por uma estranha dor de cabeça, acabando por, a seu próprio pedido, ser transportada para um hospital. O que se segue poderia ser melodramático, não fosse o estilo da autora tão límpido e direto, capaz até de captar momentos de inesperado humor.


Jacquelyn Mitchard é escritora e jornalista e tem colaborado ao longo dos anos com publicações como Milwaukee Journal Sentinel, Parade, Reader’s Digest, Good Housekeeping e Real Simple. Entre os seus bestsellers encontram-se os títulos Profundo como o Mar, A Mais Amada, Um Pai muito Especial, Um Natal Que não Esquecemos e Antes Que Seja Tarde, já publicados pela Presença. Jacquelyn Mitchard vive no Wisconsin com o marido e sete filhos. 

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Livro do mês de novembro "O amante da rainha"

Numa época em que a segurança de um país não era um dado adquirido e em que a Europa vivia em clima de guerra quase permanente, Isabel sucede ao trono da Inglaterra sob ameaça de inimigos internos e externos. A situação agrava-se quando se apaixona pelo ambicioso Robert Dudley, um dos homens mais odiados do país. Ambos não parecem dispostos a abdicar da sua paixão, mas a segurança da Inglaterra torna-se precária.
Numa fase conturbada da história da Inglaterra, em pleno século XVI, com a Europa mergulhada em sangrentas guerras entre católicos e protestantes, Isabel, a princesa protestante, sucede à sua irmã Maria, a católica. Para conquistar o equilíbrio do poder, Isabel terá de se haver com os inimigos externos, nomeadamente a Escócia e a França.
No entanto, Isabel é uma rainha ainda jovem e com sede de atenção e de amor. Robert Dudley, saído do cativeiro da torre de Londres sabe disso e a precariedade da prisão não lhe impediu uma ambição sem limites. A antiga amizade com a causa de Isabel transformar-se-á numa tórrida paixão, contudo cheia de obstáculos, a começar pelo casamento de Robert com Amy, sua jovem mulher. Amy, por sua vez, o que mais deseja é uma vida tranquila, fora do bulício da corte, em conjunto com o seu amado esposo. Porém, este tem outros objetivos de vida.


Philippa Gregory nasceu no Quénia em 1954, mas mudou-se com a família para Bristol, na Inglaterra, quando tinha dois anos. Frequentou a Universidade de Sussex, onde um curso de Iniciação à História viria a mudar a sua vida. Até hoje já publicou 24 livros – muitos deles bestsellers. Philippa Gregory é doutorada em Literatura do Século XVII pela Universidade de Edimburgo e os seus romances refletem uma pesquisa e um pormenor histórico meticulosos. O seu período favorito da História é a época Tudor, sobre a qual já escreveu vários romances, alguns dos quais foram adaptados pela BBC a dramas históricos.

Poema do mês de novembro "A rainha"

A Rainha


Nomeei-te rainha.
Há maiores do que tu, maiores.
Há mais puras do que tu, mais puras.
Há mais belas do que tu, há mais belas.

Mas tu és a rainha.

Quando andas pelas ruas
ninguém te reconhece.
Ninguém vê a tua coroa de cristal, ninguém olha
a passadeira de ouro vermelho
que pisas quando passas,
a passadeira que não existe.

E quando surges
todos os rios se ouvem
no meu corpo,
sinos fazem estremecer o céu,
enche-se o mundo com um hino.

Só tu e eu,
só tu e eu, meu amor,
o ouvimos.


Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Livro do mês de outubro: "Os miseráveis", de Victor Hugo

Um clássico de convicção, humanismo e coragem. Um romance imortal. Romance social marcado por uma vasta análise de costumes da França de meados do século XIX, Os Miseráveis revela uma grande complexidade tanto ao nível da escrita como da própria intriga, misturando-se intimamente realismo e romantismo. Num contexto histórico que cobre o período entre a batalha de Waterloo e as barricadas de Paris, Vítor Hugo apresenta-nos a história de Jean Valjean, um popular prisioneiro condenado por ter roubado um pão e cuja pena será agravada por tentativa de evasão. Em vez de ser reeducado pela justiça humana para a vida civil, é endurecido no mal.
Ao ganhar a liberdade sai da cidade à procura de um lugar para dormir e se alimentar. Entretanto, é expulso de todas as hospedarias, pois consideravam-no como um dos piores bandidos de sempre. Com frio e fome ele bate à porta da casa de um bispo que o acolhe com dedicação, por mais que soubesse de quem se tratava. Jean Valjean rouba castiçais e alguns talheres do bispo. Mas, logo depois, é apanhado pela polícia que o leva até a casa do bispo. Este, por sua vez, mente dizendo que havia dado os objetos ao hóspede e perdoa-o.
Arrependido, Jean Valjean percebe o quanto é hipócrita e decide praticar a honestidade e o bem ao próximo. Na Alemanha, ele torna-se dono de uma fábrica. Embora fosse rico sempre foi procurado pela justiça pelo inspetor Javert, um homem muito severo e dedicado à profissão que exercia. Porém, Jean sempre escapava das emboscadas, pois era habilidoso e forte. Quando mudou de identidade e passou a chamar-se Madeleine, conheceu uma mulher chamada Fantine. Ela tinha uma filha chamada Cosette, a qual morava com a família dos Thénardier, pois a sua mãe não tinha condições financeiras para a criar. Cosette trabalhava na casa dos Thénardier como se fosse uma escrava. Apanhava e era humilhada pelas filhas do casal. No entanto, a sua mãe não sabia. Quando Fantine faleceu, e como Jean Valjean havia prometido, ele foi procurar Cosette e levou-a para morar consigo. Jean passou a tratar de Cosette e a considerá-la como filha, oferecendo-lhe carinho e amor paterno.
Cosette conheceu um rapaz com o qual se casou, tendo Jean passado a morar sozinho. Jean adoeceu e morreu.        
No seu túmulo estava apenas escrita a seguinte frase: “Ele dorme. Embora a sorte lhe tenha sido adversa. Ele viveu. Morreu quando perdeu seu anjo; Partiu com a mesma simplicidade; como a chegada da noite após o dia”.

Esta história imbuída de misticismo e maravilhoso é, antes de mais, uma denúncia de todo o tipo de injustiças, espelhando de forma exemplar as contradições e grandezas do século XIX.


Victor Hugo nasceu em 26 de fevereiro de 1802 e faleceu em 1885, na França. É considerado o principal nome do romantismo francês. Escreveu muitos poemas e romances lembrados até hoje. Entre eles, O Corcunda de Notre Dame e Os trabalhadores do mar. A obra de Victor Hugo supera o seu tempo. Retrata com profundidade a condição humana e todos os níveis da sociedade, dos nobres aos excluídos. As suas personagens possuem vida própria, pois são capazes de denunciar a miséria, a falta de justiça e a necessidade de construir um mundo melhor.

Poema do mês de outubro

Ah, a esta alma que não arde
Não envolve, porque ama
A esperança, ainda que vã,
O esquecimento que vive
Entre o orvalho da tarde
E o orvalho da manhã.





Fernando Pessoa

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Livro do mês de setembro - Jardim dos segredos de Kate Morton

Uma criança perdida: em 1913, Nell, uma criança inglesa de quatro anos, é encontrada sozinha, num barco que se dirigia à Austrália. Com ela leva uma pequena mala que contém, entre outras coisas, um livro de contos para crianças da autoria de Eliza Makepeace. Uma mulher misteriosa prometera tomar conta dela, mas desapareceu sem deixar rasto.
Um terrível segredo: no seu 21º aniversário, Nell Andrews descobre algo que mudará a sua vida para sempre. Décadas depois, embarca em busca da verdade, numa demanda que a conduz até à costa da Cornualha e à bela e misteriosa Mansão Blackhurst.
Uma herança misteriosa: aquando do falecimento de Nell, a neta, Cassandra, depara-se com uma herança surpreendente. A Casa da Falésia e o seu jardim abandonado são famosos nas redondezas pelos segredos que ocultam – segredos sobre a família Mountrachet e a sua governanta, Eliza Makepeace, uma escritora de obscuros contos de fadas. É aqui que Cassandra irá por fim descobrir a verdade sobre a família e resolver o mistério de uma pequena criança perdida.
É à volta desta criança perdida, de um terrível segredo e de uma herança misteriosa que todo o livro se vai desenrolar, alternando perspetivas do período 1900-1913, que inclui o relato dos acontecimentos que antecederam a viagem de Nell; 1975, quando o pai adoptivo de Nell morre, lhe dá a mala, e ela parte rumo a Inglaterra para tentar descobrir as suas origens; e 2005, quando Nell morre e deixa a Casa da Falésia à sua neta Cassandra, decidindo esta fazer a mesma viagem de Nell para descobrir, finalmente, aquilo que a sua avó não conseguiu desvendar.


Kate Morton cresceu nas montanhas do Sudoeste de Queensland, na Austrália. Depois de concluir o
ensino secundário licenciou-se em Artes Dramáticas, em Londres. Se até então achava que o seu futuro seria no teatro, rapidamente descobriu que a sua paixão eram as palavras. Mais recentemente licenciou-se em Literatura Inglesa.
Kate vive atualmente com o marido, Davin, e os seus dois filhos em Brisbaine, num palacete do século dezanove repleto de mistérios.
Para além de Jardim dos segredos, escreveu O Segredo da Casa de Riverton, As horas distantes, Amores secretos e O último adeus.

Poema do mês de setembro

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...


Alberto Caeiro