sábado, 15 de outubro de 2011

Os professores, por José Luís Peixoto

Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios, contra o nosso futuro. Resistindo, os professores, pela sua prática, são os guardiões da esperança.

O mundo não nasceu connosco. Essa ligeira ilusão é mais um sinal da imperfeição que nos cobre os sentidos. Chegámos num dia que não recordamos, mas que celebramos anualmente; depois, pouco a pouco, a neblina foi-se desfazendo nos objetos até que, por fim, conseguimos reconhecer-nos ao espelho. Nessa idade, não sabíamos o suficiente para percebermos que não sabíamos nada. Foi então que chegaram os professores. Traziam todo o conhecimento do mundo que nos antecedeu. Lançaram-se na tarefa de nos atualizar com o presente da nossa espécie e da nossa civilização. Essa tarefa, sabemo-lo hoje, é infinita.
O material que é trabalhado pelos professores não pode ser quantificado. Não há números ou casas decimais com suficiente precisão para medi-lo. A falta de quantificação não é culpa dos assuntos inquantificáveis, é culpa do nosso desejo de quantificar tudo. Os professores não vendem o material que trabalham, oferecem-no. Nós, com o tempo, com os anos, com a distância entre nós e nós, somos levados a acreditar que aquilo que os professores nos deram nos pertenceu desde sempre. Mais do que acharmos que esse material é nosso, achamos que nós próprios somos esse material. Por ironia ou capricho, é nesse momento que o trabalho dos professores se efetiva. O trabalho dos professores é a generosidade.
Basta um esforço mínimo da memória, basta um plim pequenino de gratidão para nos apercebermos do quanto devemos aos professores. Devemos-lhes muito daquilo que somos, devemos-lhes muito de tudo. Há algo de definitivo e eterno nessa missão, nesse verbo que é transmitido de geração em geração, ensinado. Com as suas pastas de professores, os seus blazers, os seus Ford Fiesta com cadeirinha para os filhos no banco de trás, os professores de hoje são iguais de ontem. O ato que praticam é igual ao que foi exercido por outros professores, com outros penteados, que existiram há séculos ou há décadas. O conhecimento que enche as páginas dos manuais aumentou e mudou, mas a essência daquilo que os professores fazem mantém-se. Essência, essa palavra que os professores recordam ciclicamente, essa mesma palavra que tendemos a esquecer.
Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios, contra o nosso futuro. Resistindo, os professores, pela sua prática, são os guardiões da esperança. Vemo-los a dar forma e sentido à esperança de crianças e de jovens, aceitamos essa evidência, mas falhamos perceber que são também eles que mantêm viva a esperança de que todos necessitamos para existir, para respirar, para estarmos vivos. Ai da sociedade que perdeu a esperança. Quem não tem esperança não está vivo. Mesmo que ainda respire, já morreu.
Envergonhem-se aqueles que dizem ter perdido a esperança. Envergonhem-se aqueles que dizem que não vale a pena lutar. Quando as dificuldades são maiores é quando o esforço para ultrapassá-las deve ser mais intenso. Sabemos que estamos aqui, o sangue atravessa-nos o corpo. Nascemos num dia em que quase nos pareceu ter nascido o mundo inteiro. Temos a graça de uma voz, podemos usá-la para exprimir todo o entendimento do que significa estar aqui, nesta posição. Em anos de aulas teóricas, aulas práticas, no laboratório, no ginásio, em visitas de estudo, sumários escritos no quadro no início da aula, os professores ensinaram-nos que existe vida para lá das certezas rígidas, opacas, que nos queiram apresentar. Se desligarmos a televisão por um instante, chegaremos facilmente à conclusão que, como nas aulas de matemática ou de filosofia, não há problemas que disponham de uma única solução. Da mesma maneira, não há fatalidades que não possam ser questionadas. É ao fazê-lo que se pensa e se encontra soluções.
Recusar a educação é recusar o desenvolvimento.
Se nos conseguirem convencer a desistir de deixar um mundo melhor do que aquele que encontrámos, o erro não será tanto daqueles que forem capazes de nos roubar uma aspiração tão fundamental, o erro primeiro será nosso por termos deixado que nos roubem a capacidade de sonhar, a ambição, metade da humanidade que recebemos dos nossos pais e dos nossos avós. Mas espero que não, acredito que não, não esquecemos a lição que aprendemos e que continuamos a aprender todos os dias com os professores. Tenho esperança.

Artigo de José Luís Peixoto, publicado na revista Visão de 13 de Outubro de 2011
(Fonte: Esquerda.net)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Outubro: mês da Biblioteca Escolar

Tomas Tranströmer, sueco, ganha prémio Nobel de Literatura


Um dos poetas mais importantes da Suécia, Tanströmer nasceu em 1931 e publicou a sua primeira obra, "17 dikter" ("17 poemas"), em 1954.  Estudou psicologia e poesia na Universidade de Estocolmo.
A sua obra foi traduzida para mais de 50 idiomas e inclui títulos como "The great enigma: new collected poems", "The half-finished heaven", "For the living and the dead", "Baltics", "Windows and stones".
Antes de ser premiado com o Nobel, Tanströmer tinha sido galardoado com o Aftonbladets Literary Prize for Literature, o Oevralids Prize, entre outros.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Filme do mês de setembro

Tudo começa com o Homer, o seu porco (o novo animal de estimação) e um silo cheio de dejectos – uma combinação que causa um acidente, que Springfield nunca tinha testemunhado.
Enquanto Marge está ultrajada pela estupidez monumental de Homer, uma multidão sedenta de vingança aproxima-se da sua casa.
A família consegue escapar quase por milagre, mas é rapidamente dividida pelo conflito.
Os cidadãos de Springfield têm toda a razão para querer o sangue do Homer. A calamidade despoletada por Homer chamou a atenção do presidente dos EUA e da agência de protecção ambiental.
Enquanto o destino de Springfield e do mundo está por definir, Homer embarca numa odisseia de redenção – procurando o perdão da Marge, a reunião da sua família dividida e a salvação da sua cidade.

Poema do mês de setembro

Quem me quiser

Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.


Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.


Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.


Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.


Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.


Rosa Lobato de Faria

domingo, 7 de agosto de 2011

Clube das Histórias

O homem que ficou sem sono
ou
a história de um herói contada em português
 Era uma vez um homem que um dia ficou sem sono. Queria dormir, mas não conseguia, apesar de sempre ter dormido bem. Quando fechava os olhos, não lhe saía da cabeça a tristeza que havia no olhar das crianças que se apinhavam junto da porta da casa onde morava e trabalhava. Era um homem bom que gostava do que fazia e que fora educado para obedecer às ordens dos seus superiores, estivesse onde estivesse. Nunca lhe passara sequer pela cabeça a possibilidade de um dia vir a infringir essa regra.
Esta história é verdadeira e aconteceu poucos dias antes de começar o Verão do ano de 1940. Ainda há muita gente viva que se lembra bem desse homem e daquilo que ele fez, deixando de pensar em si e pensando nos outros e na sua salvação. O homem era diplomata e nascera no norte de Portugal. Chamava-se Aristides de Sousa Mendes, era casado e tinha vários filhos. A sua carreira como cônsul levou-o até à cidade francesa de Bordéus, onde lhe chegaram as primeiras notícias do começo da Segunda Guerra Mundial quando as tropas alemãs atacaram a Polónia e a Inglaterra se opôs a essa agressão, em defesa da liberdade e da democracia, declarando que faria frente, pelas armas, aos agressores.
O homem era pessoa de bem e defensor da paz. Não podia aceitar a ideia de que alguém pudesse ser perseguido, torturado e morto só por ter ideias políticas diferentes ou outra religião. Fora educado para a tolerância e por isso respeitava os direitos dos outros. À medida que as tropas alemãs invadiam países como a Bélgica ou a Holanda e se aproximavam da fronteira francesa, iam chegando a Bordéus refugiados das nações ocupadas, em busca de um visto no passaporte que lhes permitisse chegar a Espanha e depois a Portugal, apanhando mais tarde, em Lisboa, um barco ou um avião que os levasse para países como os Estados Unidos da América, o Brasil ou a Argentina, onde não havia guerra. Portugal e Espanha, governados por ditadores como Hitler, o senhor da Alemanha, não tinham entrado na guerra e iriam manter-se à margem dela, embora durante muito tempo tenham estado ao lado dos alemães e do que eles representavam.
O homem queria dormir, mas não era capaz. Ecoavam-lhe na cabeça as vozes das crianças que sofriam de fome e de sede e que, lembrando-lhe os seus filhos, tinham o direito de viver e de crescer em liberdade. De Lisboa, o cônsul português recebera ordens muito rigorosas no sentido de não deixar chegar refugiados a Portugal. Pensou e voltou a pensar, consultou a mulher e escreveu uma longa carta aos filhos explicando o que tencionava fazer e as razões dessa opção. Espreitou pela janela e viu nos olhos das crianças um sorriso fugidio que representava a última réstia de esperança. Por elas valeria a pena arriscar. Por elas e pelos princípios que defendia. Foi assim que a palavra «desobediência» entrou definitivamente no seu vocabulário. Mandou abrir as portas do Consulado de Portugal e forneceu aos funcionários carimbos e selos brancos para poderem emitir o maior número de vistos possível. A partir desse momento seria uma batalha sem tréguas contra o  tempo. Cada minuto contava. Cada dia parecia uma eternidade.
Durante três dias não houve descanso para ninguém dentro do Consulado, e ainda sobrou tempo para se dar água e comida àqueles que esperavam à porta em intermináveis filas, com a esperança de que o pesadelo por fim terminasse. Pela rádio chegavam notícias da rendição da França, o que significava que já faltava muito pouco para que as tropas de Hitler chegassem também a Bordéus, perseguindo e prendendo judeus e opositores políticos ao regime nazi. Era preciso atuar ainda mais depressa. O cônsul conseguiu arranjar tempo para ir às cidades de Bayonne e Hendaye onde havia um grande número de refugiados tentando passar a fronteira em direção a Espanha. Aristides de Sousa Mendes sabia que o desrespeito pelas ordens de Lisboa teria consequências dramáticas para o seu futuro e da sua família. Ainda assim, não recuou. Sabia que a razão estava do seu lado e não estava disposto a abdicar dessa razão, que correspondia à salvação de milhares de vidas.
            — Mãe, tenho fome e sede e quero sair deste sítio — dizia a menina austríaca para a mãe pálida e exausta.
            — Talvez amanhã de manhã já possamos estar a caminho da liberdade, porque há ali dentro um homem bom que nos quer ajudar.
O homem não se deixou vencer pelo cansaço, pelo sono, pela fome ou pela sede. A vida dos outros estava primeiro. Se eles tinham pressa, a sua conseguia ser ainda maior. No Consulado, houve quem o avisasse: «O senhor bem sabe o que lhe pode acontecer!» Mas ele não quis saber e continuou a passar vistos, perdendo a conta às pessoas que já tinha conseguido salvar. Terão sido dez mil, quinze mil ou trinta mil? Não se sabe ao certo. Sabe-se sim que chegaram a Lisboa e que depois foram encaminhados para o Estoril, para a Ericeira, para a Figueira da Foz ou para as Caldas da Rainha. Mais tarde, a maioria conseguiu partir para países onde havia liberdade. Alguns voltaram depois do final da guerra às suas terras, outros nunca mais as quiseram ver porque não conseguiram esquecer as horas de sofrimento e perda. Três dias bastaram para que o cônsul Aristides de Sousa Mendes abrisse a milhares de refugiados as portas para a liberdade, desobedecendo a Salazar e ao regime que ele dirigia. Por isso foi prontamente banido da carreira diplomática e proibido de exercer qualquer atividade profissional, morrendo na miséria em 1954, com os filhos dispersos por países como os Estados Unidos, onde puderam estudar e seguir as suas carreiras. Num dia quente de Junho de 1940, no Rossio, em Lisboa, um menino de cabelo loiro perguntou aos pais, enquanto estes procuravam uma pensão ou um hotel onde se pudessem instalar até conseguirem arranjar bilhetes num barco ou num avião para Nova Iorque:
            — Como é que se chama aquele senhor que, em Bordéus, nos passou os vistos para podermos chegar a este país?
            O pai, não contendo uma lágrima comovida, respondeu-lhe:
            — Chama-se herói, filho. Quem faz o que ele fez por nós só pode ter esse nome.
Ainda não houve um grande realizador de cinema que fizesse um filme sobre esta história verdadeira, à semelhança do que Steven Spielberg fez com Oskar Schindler, mas pode ser que ainda venha a ser feito. Nunca é tarde para celebrar os feitos dos heróis.
Naquelas noites quentes de Junho de 1940, havia em Bordéus um português que não conseguia dormir. Não lhe saía da memória a aflição das crianças que queriam ver abrir-se a porta que as deixasse seguir o caminho até à liberdade. Essa porta abriu-se e por ela passou uma réstia de luz, desenhando no cetim negro do céu, entre as estrelas, a linda palavra «Esperança», escrita em português como esta história verdadeira que é sempre bom contar e recontar.
Porquê? Porque é sempre possível que a tragédia volte a acontecer, onde e quando menos se espera.

José Jorge Letria
AAVV
Contos de um Mundo com Esperança
Lisboa, Texto Editora, 2003
(adaptação)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Clube das Histórias

Carta Aberta a um Jovem
 
Caro Jovem

Não há nada de antiquado no facto de procurares comportar-te com dignidade nas tuas relações com o sexo oposto. O teu corpo não é um objeto, nem um qualquer mecanismo que não possas controlar.
Numa relação, o afeto é muito mais importante do que o sexo. A falta de carinho leva a que as pessoas acabem por se tornar agressivas uma com a outra. Nunca te precipites. Os contactos sexuais não te farão mais próximo de quem julgas gostar.
É uma grande ilusão confundir-se atração física com amor. Deixa as experiências sexuais para quando tiveres uma relação verdadeiramente madura, ou podes ter a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, tudo se desmoronará. Não coloques o prazer à frente do carinho e do respeito. Deixa que o tempo exerça a sua ação. Já experimentaste comer um fruto ainda verde?
Fala-se muito de amor, quando, na maior parte dos casos, tudo não passa de aparência. Não antecipes experiências que só devem ser vividas quando houver respeito e ternura bastantes para tornarem sólida uma relação. De outra forma, apenas encontrarás o vazio.
A precipitação pode ter consequências sérias: uma gravidez não planeada, por exemplo. Interrompe-se a gravidez, dirás tu. E achas correto matar uma vida, sobretudo quando foi a tua irresponsabilidade que a criou?
Não te esqueças também das doenças transmissíveis por via sexual, e do enorme sofrimento que poderão causar. Relações sexualmente protegidas serão a solução, pensarás. Pois convence-te de que a solução consiste em te tornares interiormente adulto e responsável, e aprenderes a agir com retidão e dignidade.
O ser humano não é um animal irracional que atua impelido pelo cio. É um ser pensante e criativo, com capacidade de escolha e de decisão, e que tem o dever de refletir sobre os seus atos.
Os muitos filmes e novelas incessantemente despejados na cabeça das pessoas distorcem o sentido da conduta humana, induzindo à vulgaridade e à imitação de comportamentos grosseiros, quando não claramente antiéticos.
Deves desenvolver o teu espírito crítico, para não te limitares a ser mais uma ovelha de um imenso rebanho obtuso e amorfo, que se deixa conduzir por qualquer um.
Não esqueças que a vida é uma oportunidade demasiado preciosa para a desperdiçares com caprichos e fantasias. Procura a justiça e tenta contribuir para uma sociedade melhor.
Com o desejo sincero de que sejas feliz.



Anónimo

sábado, 2 de julho de 2011

Francisco Salgueiro

Homens há muitos: Como disse tenho trinta anos, sou publicitário e vivo sozinho. Esta última parte estou a dizer pela primeira vez. Quando andava na quarta classe tinha a certeza que nesta idade já deveria ter barba branca, uma mulher e três filhos. Até agora: não, não e não. E porquê? Mais vale só que mal acompanhado. Ando à procura da mulher perfeita. (...) Para além de ser um knock out visual, ela é doce, carinhosa, divertida e querida. Ao longo da minha vida só me foram aparecendo esboços dessa mulher.”

A praia da saudade: A história de um amor proibido num país mergulhado na ditadura salazarista. Portugal, 1964. Salazar proibia a Coca-Cola, a censura amordaçava escritores e a PIDE prendia inocentes. Beatriz e Rodrigo apaixonam-se. Ela, de educação católica e membro da Mocidade Portuguesa Feminina. Ele, um defensor da liberdade e crítico do regime. Em plena ditadura, havia apenas uma regra no que tocava às relações: não se apaixonar pela pessoa errada.

Quarenta e cinco anos mais tarde, o neto de Rodrigo abre um cofre fechado durante décadas e encontra as cartas de amor trocadas entre os dois. Descobre a história de uma paixão impossível, que tentou sobreviver às pressões sociais de um país mergulhado nas trevas do regime salazarista. A política de Salazar obrigou à separação dos dois amantes, mas nunca conseguiu matar o amor que os unia. Poderá ainda haver um final feliz, ou será tarde demais?

Entre o ambiente de Lisboa nos anos sessenta, a guerra em África e o retrato de uma sociedade governada pelo medo, o autor, com base numa história real, escreve um romance emocionante e comovente a que nenhum leitor ficará indiferente.

Amei-te em Copacabana: Uma viagem de autoconhecimento pelos segredos que nos permitem ser felizes numa relação. Teremos um único grande amor na nossa vida?

Poderá a psicanálise ajudar a resolver os nossos problemas sentimentais? Essa é a pergunta que Pedro leva à prática, de modo a tentar perceber porque se envolve sempre em relações condenadas. Perante uma série de omissões e traições, insiste em não desistir daquela que pensa ainda poder ser “a mulher da sua vida”.

Entre Lisboa e o Rio de Janeiro acompanhamos a vida de um homem dividido entre a entrega e a dúvida, o amor e a desilusão, os momentos de paixão e as profundas carências. Tudo o que faz parte dos mistérios da vida e os segredos de um homem que procura a felicidade e o encontro com o amor. Afinal, não estaremos todos?



Splaaash: Qual a ligação entre festas na Mansão Playboy, avalanches na Serra Nevada, a queda do vaivém Columbia, um atentado contra o príncipe William e um knock-out num concerto da Madonna? Francisco vive em Hollywood e é amigo do George Clooney e do Ben Affleck. Num avião rumo a Lisboa a sua vida vai mudar para sempre. No meio duma tempestade TRÁSSSSS... TRUMMMM... conhece Maria. Juntos vão descobrir o estranho elo entre estes acontecimentos que estão relacionados com revelações surpreendentes sobre as estrelas de Hollywood.



Os homens da cavernas também oferecem toblerones: Os homens não acreditam no amor eterno... até encontrarem a mulher certa.
Mais depressa os homens regressam à Lua do que têm os pés assentes numa relação. E Diogo não é exceção. Ele é como Ibiza: está permanentemente em festa. Até que sente um vazio e a necessidade de se evadir e de fazer uma caminhada à volta de si mesmo. Depois de uma viagem espiritual à Índia começa a acreditar que a vida também é feita de sentimentos. Em Miami conhece Rita. Um ano depois reencontram-se em Sintra e apaixonam-se, mas uma viagem a Chernobyl afetará para sempre a relação.

Teremos apenas um grande amor na nossa vida? Alguém que nos marcará para sempre, aconteça o que acontecer? Alguém que consiga transformar radicalmente a nossa perspetiva da vida, do amor e de nós próprios? Ou será que é apenas conversa da Oprah?



Viva o amor: Olá! Eu sou o Gonçalo! E eu a Marta, Hellokitty na net. Amo o Verão Azul e a Abelha Maia (...) Acabaram de ler o meu livro novo da primeira à última palavra. Não perceberam nada? Então vão ter que lê-lo com mais calma... mas em casa. Tem amor, sexo, perseguições, tiros, festas de Verão no Algarve e a participação especial de Cinha Jardim, Sofia Alves, Mituxa Jardim e Luís Evaristo. Garanto que vão adorar. Se isso não acontecer, poderão utilizá-lo como frisbee na praia ou aproveitar as páginas para fazer embrulhos de Natal.



O fim da inocência: Uma confissão que não vai deixar ninguém indiferente. Terá coragem de ler?

Aos olhos do mundo, Inês é a menina perfeita. Frequenta um dos melhores colégios nos arredores de Lisboa e relaciona-se com filhos de embaixadores e presidentes de grandes empresas. Por detrás das aparências, a realidade é outra, e bem distinta. Inês e os seus amigos são consumidores regulares de drogas, participam em arriscados jogos sexuais e utilizam desregradamente a internet, transformando as suas vidas numa espiral marcada pelo descontrolo físico e emocional.

Francisco Salgueiro dá voz à história real e chocante de uma adolescente portuguesa, contada na primeira pessoa. Um aviso para os pais estarem mais atentos ao que se passa nas suas casas.





Francisco Salgueiro nasceu em Lisboa a 29 de Junho de 1972.

Depois de ter tirado o Curso de Comunicação Empresarial, participou na criação da Direção de Comunicação da TV Cabo, dedicou-se à autoria e escrita de programas de televisão, na SIC, e à escrita de artigos de opinião para as revistas Notícias Magazine, Máxima, Telecabo e o jornal O Independente.

É um dos fundadores da primeira empresa em Portugal a dedicar-se à produção de conteúdos escritos para TV, Internet e Televisão Interativa.

Clube das Histórias

O cato

Sónia está quase a chorar. A chorar de raiva. Quer ser ela a decidir, sozinha, se vai ou não a uma festa de aniversário. Decidiu que NÃO VAI a casa de Catarina, mas a mãe insiste que se deve aceitar sempre um convite de aniversário, mais ainda quando o aniversariante é da mesma turma que nós. E quando a mãe do aniversariante é nossa amiga.

O pai compreende Sónia. Quando não gosta de ir a algum lado, ele também não vai.

— Deixa a Sónia em paz! — diz ele à mãe. — Se ela não quer ir à festa de anos, então que não vá.

— A Catarina só me convidou porque a mãe dela queria — barafusta Sónia. — Sabes muito bem. A mãe dela acha que, só por vocês serem amigas, nós também temos de ser!

É Sónia que escolhe as suas amigas e elas são todas muito diferentes de Catarina: não têm tranças sem graça, sempre do mesmo tamanho e da mesma grossura a caírem pelas costas abaixo, não usam blusas impecavelmente limpas, sem uma pontinha de sujidade, nem mesmo na gola, não usam meias altas de uma só cor, que nunca escorregam. As amigas de Sónia são barulhentas, gostam de roupas garridas e andam um pouco desarranjadas. E quando alguém precisa, estão sempre dispostas a ajudar. E Catarina?

Catarina, se tivesse um grande guarda-chuva preto, daqueles de homem, abri-lo-ia por cima do caderno para que ninguém pudesse copiar. Quando não tem a melhor nota da turma, Catarina parece ainda mais magra, mais macilenta e calada. Catarina nunca ri. É fechada como uma ostra.

— Coitada da Catarina — diz a mãe de repente. — Se não leva ‘Muito Bom’ para casa, o pai grita com ela. E a mãe não diz uma palavra. Com um marido com tão mau-génio, nem se atreve a falar. Só me admira que a Catarina possa até dar uma festa de anos. Numa casa como aquela, onde todos têm de andar em chinelos para não sujarem o chão e onde não se pode fazer barulho, porque o pai não suporta nenhum ruído!...

“Não gostava nada de ter um pai assim”, pensa Sónia. “Quando trago um “Satisfaz” para casa, o máximo que o meu diz é: — Bem, pelo menos não trouxeste nenhum ‘Não Satisfaz!’ — A Catarina é mesmo infeliz.”

A mãe já embrulhou a prenda: papel de carta com linhas fluorescentes. Há muito tempo que Sónia queria ter um assim, mas com as cores do arco-íris.

Aquilo nem faz nada o género de Catarina.

“Vou ficar com ele para mim”, pensa Sónia. “A Catarina nunca saberá o que ia receber. E de certeza que as nossas mães não vão falar do papel de carta quando se encontrarem. O que eu queria mesmo era escrever uma carta assim:



Querida mãe,

A Catarina é uma palerma. Como não tenho vontade nenhuma de ir à festa de anos de uma palerma, vou ficar no meu quarto.

Sónia

Isto era bom mas, infelizmente, não pode ser.”

Sónia pensa no que pode oferecer, em vez do papel de carta. O que gostava era de lhe dar um cato. Um, com picos da grossura de um dedo. Sónia está a pensar naquela vez, ainda há pouco tempo, em que lhe emprestou o seu bonequinho de chumbo preferido e ela, no recreio, o deixou cair na grelha da água. E agora, em troca, vai receber um cato cheio de picos. Um dos da coleção da mãe. Ela já nem gosta deles. Nascem como cogumelos — costuma dizer, porque a família e os amigos só lhe oferecem catos. De certeza que a mãe não vai reparar se lhe faltar um vaso no meio dos cinquenta e nove!

Sónia escolhe um cato pequeno e torto com muitos cabelinhos e inúmeros picos. Na ponta tem uma espécie de espinho, mole e amarelo-acastanhado. Ainda fica a pensar se não devia cortá-lo, mas acaba por deixar o cato como está. Embrulha-o em quatro folhas de papel de seda para não se picar e põe-no junto dos chinelos de casa, dentro do saco de plástico. “Deve ser horrível ter de levar sempre cincos para casa”, pensa Sónia no elétrico a caminho de casa de Catarina. “E ter um pai que grita e de quem todos têm medo…”

Desde que soube aquilo sobre o pai, Sónia passou a ver Catarina com outros olhos. Tem pena dela. Olha para o saco pousado entre os pés. Se calhar não devia ter trocado o papel de carta bonito pelo cato feio. A viagem é longa e ele ainda se estraga metido no saco. De repente, Sónia lembra-se da cara que Catarina fez quando reparou que Sónia tinha colado uma cábula por baixo da carteira. Lançara-lhe um olhar ameaçador como se fosse fazer imediatamente queixa dela, mas até agora nada tinha feito. Aquilo é que fora um olhar zangado!

Não! Sónia nem sequer vai dar-lhe os parabéns. Só vai sorrir-lhe delicadamente, assim uma espécie de sorriso pequenino só do canto da boca, e apertar-lhe a mão. E dar-lhe o cato. O cato, que nem sequer tem perfume. O cato, que só pica.

Sónia está em frente à casa de Catarina. Até que está muito barulho lá dentro para quem tem um pai que quer sempre silêncio….

— Ainda bem que vieste — diz a mãe de Catarina. — A Catarina vai ficar contente.

“Ora esta!” pensa Sónia. “Então ela pensou que eu não queria vir?”

Catarina vem à porta a correr. Chega a transpirar, de cabelo solto, vestida com uma camisola cor-de-rosa e umas calças verde-alface.

— Olá! — grita alegremente. — Hoje estou diferente, não é? — diz, ao ver a cara esquisita da Sónia.

— Tive autorização para escolher isto, sozinha!

Catarina aponta orgulhosamente para o rosa-choque e o verde-alface.

— Muitos parabéns — diz Sónia baixinho.

Aquela Catarina tão mudada apanhou-a completamente de surpresa.

Desembrulha o cato com cuidado… e tem de olhar duas vezes até acreditar:

— Não é possível! — murmura Sónia.

Mas lá está ela, pequenina, delicada, amarela.

Com o calor do saco, aquilo que dantes era castanho e murcho transformara-se numa florinha amarela.

— É tão querido! — exclama Catarina. — Um cato em flor! O meu primeiro cato!

Catarina está sinceramente contente. Já não é uma ostra esquisita e calada. Em casa, onde não tem de se esforçar para ter cincos, é completamente diferente.

Levanta o cato no ar e vira-o de todos os lados. Ri por sair tão torto da terra.

“É esquisito”, pensa Sónia. “Trouxe um cato feio a uma pessoa de quem não gostava. Entretanto, o cato tornou-se bonito e, de repente, passei a gostar dessa pessoa!”



Evelyne Stein-Fischer
13 Geschichten vom Liebhaben
München, DTV Junior, 1990
(Tradução e adaptação)