Voz de Outono
Ouve
tu, meu cansado coração,
O que
te diz a voz da Natureza:
—
«Mais te valera, nú e sem defesa,
Ter
nascido em aspérrima soidão,
Ter
gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio
e cruel da mais cruel deveza,
Do
que embalar-te a Fada da Beleza,
Como
embalou, no berço da Ilusão!
Mais
valera à tua alma visionária
Silenciosa
e triste ter passado
Por
entre o mundo hostil e a turba vária,
(Sem
ver uma só flor, das mil, que amaste)
Com
ódio e raiva e dor... que ter sonhado
Os
sonhos ideais que tu sonhaste!» —
Antero de Quental, in
"Sonetos"
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