Num velho armazém de um bairro
popular de Santiago do Chile, três sexagenários esperam impacientes pela
chegada de um quarto homem. Cacho Salinas, Lolo Garmendia e Lucho Arencibia,
antigos militantes de esquerda, derrotados pelo golpe de estado de Pinochet e
condenados ao exílio, voltam a reunir-se trinta e cinco anos depois, convocados
por Pedro Nolasco, um antigo camarada sob cujas ordens vão executar uma arrojada
ação revolucionária. Mas, quando Nolasco se dirige para o local do encontro, é
vítima de um golpe cego do destino e morre atingido por um gira-discos que
insolitamente é lançado por uma janela, na sequência de uma desavença conjugal…
Prémio Primavera de Romance 2009, A
Sombra do que Fomos é um virtuoso exercício literário posto ao serviço
de uma história carregada de memórias do exílio, de sonhos desfeitos e de
ideais destruídos. Um romance escrito com o coração e o estômago, que comove o
leitor, lhe arranca sorrisos e até gargalhadas, levando-o, no fim, a uma
reflexão profunda sobre a vida.
Luís Sepúlveda nasceu em Ovalle, no Chile, a 4 de outubro de
1949 e morreu a 16 de abril de 2020, em Oviedo, Espanha. O seu pai era
militante do Partido Comunista e proprietário de um restaurante. A mãe era
enfermeira e tinha origens mapuche. Cresceu no bairro San Miguel de Santiago e
estudou no Instituto Nacional, onde começou a escrever por influência de uma
professora de História.
Aos 15 anos ingressou
na Juventude Comunista do Chile, da qual foi expulso em 1968. Depois disso,
militou no Exército de Libertação Nacional do Partido Socialista. Após os
estudos secundários, ingressou na Escola de Teatro da Universidade de Chile, da
qual chegou a ser diretor. Anos mais tarde, licenciou-se em Ciências da
Comunicação pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha.
Da sua vasta obra –
toda ela traduzida em Portugal –, destacam-se os romances O Velho que
Lia Romances de Amor e História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar.
Mas todos os seus livros conquistaram em todo o mundo a admiração de milhões de
leitores.
Em 2016, recebeu o
Prémio Eduardo Lourenço – que visa galardoar personalidades ou instituições com
intervenção relevante no âmbito da cooperação e da cultura ibérica –, uma honra
de definiu como «uma emoção muito especial».
Para além de romancista, foi realizador, roteirista,
jornalista e ativista político. Em 1970 venceu o Prémio Casa das Américas pelo seu primeiro livro, Crónicas de
Pedro Nadie, e também uma bolsa de estudo de cinco anos na
Universidade Lomonosov, de Moscovo. No entanto, só ficaria cinco meses na
capital soviética, uma vez que foi expulso da universidade por “atentado à
moral proletária”. Membro ativo da Unidade Popular chilena nos anos 70, teve de
abandonar o país após o golpe militar de Augusto Pinochet. Viajou e trabalhou
no Brasil, Uruguai, Bolívia, Paraguai e Peru. Viveu no Equador entre os índios
Shuar, participando numa missão de estudo da UNESCO. Em 1979 alistou-se nas
fileiras sandinistas, na Brigada Internacional Simon Bolívar, que lutava contra
a ditadura de Anastácio Somoza. Depois da vitória da revolução sandinista,
trabalhou como repórter.
Em 1982, rumou a
Hamburgo, movido pela sua paixão pela literatura alemã. Nos 14 anos em que lá
viveu, alinhou no movimento ecologista e, enquanto correspondente da
Greenpeace, atravessou os mares do mundo, entre 1983 e 1988. Em 1997,
instalou-se em Gijón, em Espanha, na companhia da mulher, a poetisa Carmen
Yáñez. Nesta cidade fundou e dirigiu o Salão do Livro Ibero-americano,
destinado a promover o encontro de escritores, editores e livreiros
latino-americanos com os seus homólogos europeus.
Luís Sepúlveda vendeu
mais de 18 milhões de exemplares em todo o mundo e as suas obras estão
traduzidas em mais de 60 idiomas.