De sofrimento cheio,
eis a mulher!
Esmaga o coração
dentro do peito,
E nem te doas
coração, sequer!
Sê forte, corajoso,
não fraquejes
Na luta: sê em Vénus
sempre Marte;
Sempre o mundo é vil
e infame e os homens
Se te sentem gemer
hão-de pisar-te!
Se às vezes tu
fraquejas, pobrezinha,
Essa brancura ideal
de puro arminho
Eles deixam pra
sempre maculada;
E gritam então vis:
"Olhem, vejam
É aquela a
infame!" e apedrejam
a pobrezita, a
triste, a desgraçada!
Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!
Quantas morrem saudosa duma imagem.
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca rir alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doce alma de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade.
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!
Deixa dizer-te os
lindos versos raros
Que a minha boca tem
pra te dizer!
São talhados em
mármore de Paros
Cinzelados por mim
pra te oferecer.
Têm dolência de
veludos caros,
São como sedas
pálidas a arder...
Deixa dizer-te os
lindos versos raros
Que foram feitos pra
te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu
não tos digo ainda...
Que a boca da mulher
é sempre linda
Se dentro guarda um
verso que não diz!
Amo-te tanto! E
nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor,
que eu te não dei
Guardo os versos
mais lindos que te fiz!
Florbela Espanca
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