domingo, 14 de abril de 2013

Poema do mês de abril


O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.


Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

Livro do mês de abril


Antonio José Bolívar Proaño vive em El Idilio, um lugar remoto na região amazónica dos índios shuar, com quem aprendeu a conhecer a selva e as suas leis, a respeitar os animais que a povoam, mas também a caçar e descobrir os trilhos mais indecifráveis.

Um certo dia, decide começar a ler, com paixão, os romances de amor que, duas vezes por ano, lhe leva o dentista Rubicundo Loachamín, para ocupar as solitárias noites equatoriais da sua velhice anunciada. Com eles, procura alhear-se da fanfarronice estúpida dos estrangeiros e garimpeiros que julgam dominar a selva, porque chegam armados até aos dentes, mas que não sabem enfrentar uma fera a quem mataram as crias.
O Velho que lia Romances de Amor é um "clássico" da literatura sul-americana, sendo um livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura em Portugal.  

A sua linguagem cristalina e enxuta, bem como as aventuras e emoções do velho Bolívar Proaño têm conquistado o coração de milhões de leitores em todo o mundo. Luís Sepúlveda dedicou este romance a Chico Mendes, herói da defesa da Amazónia.
 
Luís Sepúlveda nasceu em Ovalle, Chile, a 4 de Outubro de 1949.É escritor, realizador, jornalista e
Fazendo parte da guarda pessoal do Presidente Salvador Allende, encontrava-se no Palácio de la Moneda, Santiago do Chile, no dia do golpe militar de 11 de Setembro de 1973, que levou ao poder Augusto Pinochet. Na sequência do mesmo, Sepúlveda foi forçado a abandonar o país.
É, indubitavelmente, um perspicaz narrador de viagens e aventureiro nos confins do mundo. Concilia, com sucesso, o gosto pela descrição de lugares sugestivos e paisagens irreais com o desejo de contar histórias sobre o homem, através da sua experiência, dos seus sonhos, das suas esperanças. De entre os seus romances, destacam-se As Rosas de Atacama, Patagónia Expresso Poder dos Sonhos e História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar.
ativista político. Reside em Gijón, Espanha, após ter habitado em vários locais do mundo e viajado por outros tantos; destaca-se a sua participação numa missão de estudo da UNESCO entre os Índios Shuar, no Equador.