sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Livro do mês de outubro: "Os miseráveis", de Victor Hugo

Um clássico de convicção, humanismo e coragem. Um romance imortal. Romance social marcado por uma vasta análise de costumes da França de meados do século XIX, Os Miseráveis revela uma grande complexidade tanto ao nível da escrita como da própria intriga, misturando-se intimamente realismo e romantismo. Num contexto histórico que cobre o período entre a batalha de Waterloo e as barricadas de Paris, Vítor Hugo apresenta-nos a história de Jean Valjean, um popular prisioneiro condenado por ter roubado um pão e cuja pena será agravada por tentativa de evasão. Em vez de ser reeducado pela justiça humana para a vida civil, é endurecido no mal.
Ao ganhar a liberdade sai da cidade à procura de um lugar para dormir e se alimentar. Entretanto, é expulso de todas as hospedarias, pois consideravam-no como um dos piores bandidos de sempre. Com frio e fome ele bate à porta da casa de um bispo que o acolhe com dedicação, por mais que soubesse de quem se tratava. Jean Valjean rouba castiçais e alguns talheres do bispo. Mas, logo depois, é apanhado pela polícia que o leva até a casa do bispo. Este, por sua vez, mente dizendo que havia dado os objetos ao hóspede e perdoa-o.
Arrependido, Jean Valjean percebe o quanto é hipócrita e decide praticar a honestidade e o bem ao próximo. Na Alemanha, ele torna-se dono de uma fábrica. Embora fosse rico sempre foi procurado pela justiça pelo inspetor Javert, um homem muito severo e dedicado à profissão que exercia. Porém, Jean sempre escapava das emboscadas, pois era habilidoso e forte. Quando mudou de identidade e passou a chamar-se Madeleine, conheceu uma mulher chamada Fantine. Ela tinha uma filha chamada Cosette, a qual morava com a família dos Thénardier, pois a sua mãe não tinha condições financeiras para a criar. Cosette trabalhava na casa dos Thénardier como se fosse uma escrava. Apanhava e era humilhada pelas filhas do casal. No entanto, a sua mãe não sabia. Quando Fantine faleceu, e como Jean Valjean havia prometido, ele foi procurar Cosette e levou-a para morar consigo. Jean passou a tratar de Cosette e a considerá-la como filha, oferecendo-lhe carinho e amor paterno.
Cosette conheceu um rapaz com o qual se casou, tendo Jean passado a morar sozinho. Jean adoeceu e morreu.        
No seu túmulo estava apenas escrita a seguinte frase: “Ele dorme. Embora a sorte lhe tenha sido adversa. Ele viveu. Morreu quando perdeu seu anjo; Partiu com a mesma simplicidade; como a chegada da noite após o dia”.

Esta história imbuída de misticismo e maravilhoso é, antes de mais, uma denúncia de todo o tipo de injustiças, espelhando de forma exemplar as contradições e grandezas do século XIX.


Victor Hugo nasceu em 26 de fevereiro de 1802 e faleceu em 1885, na França. É considerado o principal nome do romantismo francês. Escreveu muitos poemas e romances lembrados até hoje. Entre eles, O Corcunda de Notre Dame e Os trabalhadores do mar. A obra de Victor Hugo supera o seu tempo. Retrata com profundidade a condição humana e todos os níveis da sociedade, dos nobres aos excluídos. As suas personagens possuem vida própria, pois são capazes de denunciar a miséria, a falta de justiça e a necessidade de construir um mundo melhor.

Poema do mês de outubro

Ah, a esta alma que não arde
Não envolve, porque ama
A esperança, ainda que vã,
O esquecimento que vive
Entre o orvalho da tarde
E o orvalho da manhã.





Fernando Pessoa

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Livro do mês de setembro - Jardim dos segredos de Kate Morton

Uma criança perdida: em 1913, Nell, uma criança inglesa de quatro anos, é encontrada sozinha, num barco que se dirigia à Austrália. Com ela leva uma pequena mala que contém, entre outras coisas, um livro de contos para crianças da autoria de Eliza Makepeace. Uma mulher misteriosa prometera tomar conta dela, mas desapareceu sem deixar rasto.
Um terrível segredo: no seu 21º aniversário, Nell Andrews descobre algo que mudará a sua vida para sempre. Décadas depois, embarca em busca da verdade, numa demanda que a conduz até à costa da Cornualha e à bela e misteriosa Mansão Blackhurst.
Uma herança misteriosa: aquando do falecimento de Nell, a neta, Cassandra, depara-se com uma herança surpreendente. A Casa da Falésia e o seu jardim abandonado são famosos nas redondezas pelos segredos que ocultam – segredos sobre a família Mountrachet e a sua governanta, Eliza Makepeace, uma escritora de obscuros contos de fadas. É aqui que Cassandra irá por fim descobrir a verdade sobre a família e resolver o mistério de uma pequena criança perdida.
É à volta desta criança perdida, de um terrível segredo e de uma herança misteriosa que todo o livro se vai desenrolar, alternando perspetivas do período 1900-1913, que inclui o relato dos acontecimentos que antecederam a viagem de Nell; 1975, quando o pai adoptivo de Nell morre, lhe dá a mala, e ela parte rumo a Inglaterra para tentar descobrir as suas origens; e 2005, quando Nell morre e deixa a Casa da Falésia à sua neta Cassandra, decidindo esta fazer a mesma viagem de Nell para descobrir, finalmente, aquilo que a sua avó não conseguiu desvendar.


Kate Morton cresceu nas montanhas do Sudoeste de Queensland, na Austrália. Depois de concluir o
ensino secundário licenciou-se em Artes Dramáticas, em Londres. Se até então achava que o seu futuro seria no teatro, rapidamente descobriu que a sua paixão eram as palavras. Mais recentemente licenciou-se em Literatura Inglesa.
Kate vive atualmente com o marido, Davin, e os seus dois filhos em Brisbaine, num palacete do século dezanove repleto de mistérios.
Para além de Jardim dos segredos, escreveu O Segredo da Casa de Riverton, As horas distantes, Amores secretos e O último adeus.

Poema do mês de setembro

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...


Alberto Caeiro