sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Poema do mês de outubro: "D. Sebastião" de Fernando Pessoa

Louco, sim, louco, porque quis grandeza

Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

Fernando Pessoa, Mensagem

Livro do mês de outubro – D. Sebastião e o vidente, de Deana Barroqueiro

Conspiração, mistério, revelação. Uma complexa intriga palaciana, fielmente retratada, envolve as vidas das duas principais personagens, el-rei D. Sebastião e Miguel Leitão de Andrada, desde o nascimento ao desastre Alcácer Quibir.
D. Sebastião e o Vidente é um surpreendente livro de Deana Barroqueiro, um romance histórico fascinante que apresenta uma nova visão sobre uma das figuras mais marcantes da nossa história. D. Sebastião é retratado de uma forma crua, realista, oferecendo uma perspetiva mais humana de um rei órfão, que viveu a adolescência atormentado pelos seus complexos, um mancebo visionário senhor de um poder absoluto que o arrastou ao desastre.
Por sua vez, Miguel Leitão de Andrada, fidalgote de Pedrógão Grande e reconhecido como vidente, surge como o leal escudeiro de D. Sebastião, com quem desenvolve uma relação "quixotesca", partilhando todas as vicissitudes que marcam o destino do rei Desejado. Foi, aliás, a partir da obra de Miguel Leitão de Andrada - Miscelânea - que Deana Barroqueiro se inspirou para escrever este D. Sebastião e o Vidente, baseando-se também no estudo comparado de inúmeros documentos históricos portugueses, espanhóis, franceses e holandeses, num trabalho que a ocupou ao longo de dois anos.
A leitura dessas fontes e a paixão que a autora nutre pela época renascentista, influenciaram de sobremaneira a definição da estrutura de D. Sebastião e o Vidente, a qual segue o modelo dos romances seiscentistas (dividida em quatro partes, com 150 capítulos curtos). De sublinhar, ainda, a presença de um narrador que interpela o leitor quase sempre num registo irónico, pondo em evidência o paralelismo do seu tempo com os nossos dias.

Tratando-se de uma obra de grande fôlego, D. Sebastião e o Vidente apresenta-se com uma linguagem muito cuidada, mas simples, notando-se a preocupação da autora em refletir, sobretudo através dos diálogos, o falar, os usos e os costumes daquela época, dando uma cor singular à obra.


Deana Barroqueiro nasceu em New Haven Connecticut, nos Estados Unidos da América, em 23 de julho de 1945. Foi essencialmente através da escrita que tomou consciência do seu ser e se relacionou, comunicando e comungando, com o mundo que a rodeava.
Licenciou-se em Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa, de cujo grupo de teatro fez parte juntamente com Luís Miguel Cintra, Luís Lima Barreto, Jorge de Silva Melo e tantos outros, num tempo conturbado mas de contínua mudança que recorda com saudade e emoção.
Por vocação, tornou-se professora de Português, fazendo o estágio na Escola Secundária Passos Manuel, em Lisboa, onde tem concretizado a maioria dos seus projetos de Teatro e de Escrita Criativa com os alunos, tendo publicado várias obras com o Grupo de Trabalho do M.E. para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, a Câmara Municipal de Lisboa e o Instituto de Inovação Educacional.
Deana Barroqueiro confessa-se uma apaixonada da Língua e Cultura portuguesas, em particular dos Séculos XVI a XVIII, que estuda há mais de vinte anos, e sendo, por natureza ou vício, uma contadora de histórias, não resistiu ao desejo de partilhar, com quem a quiser escutar, essas surpreendentes descobertas das vidas aventurosas ou trágicas, por isso mesmo tão humanas e próximas, de personagens históricas que fazem parte do nosso imaginário coletivo.
Publicou oito romances históricos e dois livros de contos, os quais já se encontram traduzidos e editados em Espanha, em Itália e no Brasil. No dia 21 de novembro de 2003, nos Estados Unidos da América, durante o sarau para atribuição de prémios do Concurso Literário Proverbo, de cujo júri fez parte, a escritora recebeu um louvor pela Câmara de Newark, em reconhecimento do seu contributo para a divulgação e promoção da língua e cultura portuguesas entre as comunidades de emigrantes da América, Canadá e Europa.
É autora do primeiro livro de ficção editado pela Porto Editora, D. Sebastião e o Vidente e venceu o Prémio Máxima de Literatura (Prémio Especial do Júri).