sábado, 12 de outubro de 2019
quinta-feira, 10 de outubro de 2019
terça-feira, 1 de outubro de 2019
Poema do mês de outubro
Não falta ninguém no jardim. Não há ninguém:
somente o inverno
verde e negro, o dia
desvelado como uma
aparição,
fantasma branco, de
fria vestimenta,
pelas escadas dum
castelo. É hora
de não chegar
ninguém, apenas caem
as gotas que vão
espalhando o rocio
nestes ramos
desnudos pelo inverno
e eu e tu nesta zona
solitária,
invencíveis,
sozinhos, esperando
que ninguém chegue,
não, que ninguém venha
com sorriso ou
medalha ou predisposto
a propor-nos nada.
Esta é a hora
das folhas caídas,
trituradas
sobre a terra,
quando
de ser e de não ser
voltam ao fundo
despojando-se de
ouro e de verdura
até que são raízes
outra vez
e outra vez mais,
destruindo-se e nascendo,
sobem para saber a
primavera.
Ó coração perdido
em mim, em minha
própria investidura,
generosa transição
te povoa!
Eu não sou o
culpado
de ter fugido ou de
ter acudido:
não me pôde gastar
a desventura!
A própria sorte
pode ser amarga
à força de beijá-la
cada dia
e não tem caminho
para livrar-se
do sol senão a
morte.
Que posso fazer se
me escolheu a estrela
para ser um
relâmpago, e se o espinho
me conduziu à dor
de alguns que são muitos?
O que fazer se cada
movimento
de minha mão me
aproximou da rosa?
Devo pedir perdão
por este inverno,
o mais distante, o
mais inalcançável
para aquele homem
que buscava o frio
sem que ninguém
sofresse por sua sorte?
E se entre estes
caminhos
– França distante,
números de névoa –
volto ao recinto da
minha própria vida
– um jardim só, uma
comuna pobre –
e de repente um dia
igual a todos
descendo as escadas
que não existem
vestido de pureza
irresistível,
e existe o olor de
solidão aguda,
de umidade, de
água, de nascer de novo:
que faço se respiro
sem ninguém,
por que devo
sentir-me malferido?
Pablo Neruda
Livro do mês de outubro: "Para lá do Inverno", de Isabel Allende
«No meio do inverno, aprendi por fim que havia em mim um verão invencível.»
Albert Camus
Isabel Allende parte da célebre frase de Albert Camus para nos apresentar
um conjunto de personagens próprios da América contemporânea que se encontram
«no mais profundo inverno das suas vidas»: uma mulher chilena, uma jovem
imigrante ilegal guatemalteca e um cauteloso professor universitário.
Os três sobrevivem a uma terrível tempestade de neve que se abate sobre
Nova Iorque e acabam por perceber que para lá do inverno há espaço para o amor
e para o verão invencível que a vida nos oferece quando menos se espera.
Para lá do inverno é um dos romances mais pessoais da autora: uma obra
absolutamente atual que aborda a realidade da migração e a identidade da
América de hoje através de personagens que encontram a esperança no amor e nas
segundas oportunidades.
Isabel
Allende nasceu em 1942
no Peru. Viveu no Chile, entre 1945 e 1975, com largos períodos de residência
noutros locais, na Venezuela, até 1988 e, desde então, na Califórnia. Em 1982,
o seu primeiro romance, A casa dos
espíritos, converteu-se num dos títulos míticos da literatura
latino-americana. Seguiram-se muitos outros, todos êxitos internacionais. A sua
obra está traduzida em trinta e cinco línguas. Foi galardoada com o Prémio
Nacional de Literatura do Chile.
Recentemente
foi homenageada pelo Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama,
com a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais importante distinção civil
daquele país.
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