“A obra de Florbela é a expressão
poética de um caso humano. Decerto para infelicidade da sua vida terrena, mas
glória do seu nome e glória da poesia portuguesa, Florbela vive a fundo esses
estados quer de depressão, quer de exaltação, quer de concentração em si mesma,
quer der dispersão em tudo, que na sua poesia atingem tão vibrante expressão.
"Mulheres com talento vocabular e
métrico para talharem um soneto como quem talha um vestido; ou bordarem imagens
como quem borda a missanga; ou (o que é ainda menos agradável) se dilatarem em
ondas de verbalismo como quem se espreguiça por nada ter que fazer, que
dizer-naturalmente as houve, e há, antes e depois da vida de Florbela. (…)
Também decerto, apareceram na nossa poesia autênticas poetisas, antes e depois
de Florbela. Nenhuma, porém, até hoje, viveu tão a sério um caso tão
excepcional e, ao mesmo tempo, tão significativamente humano. Jorge de Sena
dirá tão expressivamente feminino.” (José Régio)
Florbela
Espanca nasceu em Vila Viçosa, a 8 de Dezembro de 1894, sendo batizada, com o
nome de
Flor Bela Lobo, a 20 de Junho do ano seguinte, como filha de Antónia da Conceição Lobo e de pai incógnito. É em Vila Viçosa que se desenrola a sua infância. Em Outubro de 1899, Florbela começa a frequentar o ensino pré-primário, passando a assinar Flor d'Alma da Conceição Espanca (algumas vezes, opta por Flor, e outras, por Bela). Em Novembro de 1903, aos sete anos de idade, Florbela escreve a sua primeira poesia de que há conhecimento, «A Vida e a Morte», mostrando uma admirável precocidade e anunciando, desde já, a opção por temas que, mais tarde, virá a abordar de forma mais complexa. Ainda no mesmo ano, Florbela começa a escrever uma poesia sem título, o seu primeiro soneto.
Flor Bela Lobo, a 20 de Junho do ano seguinte, como filha de Antónia da Conceição Lobo e de pai incógnito. É em Vila Viçosa que se desenrola a sua infância. Em Outubro de 1899, Florbela começa a frequentar o ensino pré-primário, passando a assinar Flor d'Alma da Conceição Espanca (algumas vezes, opta por Flor, e outras, por Bela). Em Novembro de 1903, aos sete anos de idade, Florbela escreve a sua primeira poesia de que há conhecimento, «A Vida e a Morte», mostrando uma admirável precocidade e anunciando, desde já, a opção por temas que, mais tarde, virá a abordar de forma mais complexa. Ainda no mesmo ano, Florbela começa a escrever uma poesia sem título, o seu primeiro soneto.
Conclui
a instrução primária em Junho de 1906, entrando para o atual sexto ano de
escolaridade em Outubro do mesmo ano. No ano seguinte, Florbela aponta os
primeiros sinais da sua doença, a neurastenia; além disso, escreve o seu
primeiro conto, «Mamã!». Em 1908, Antónia Lobo, a mãe de Florbela, morre vítima
de neurose, após o que a família se desloca para Évora, para Florbela
prosseguir os seus estudos no Liceu André Gouveia, com o chamado Curso Geral do
Liceu, cuja sexta classe (próxima do 10º ano atual) completa em 1912.
Entretanto, em 1911, começa a namorar com Alberto Moutinho, mas acaba por se
afastar deste, em virtude de uma nova paixão por José Marques, futuro diretor
da Torre do Tombo. Após romper com este, no ano seguinte, Florbela reata o
namoro com Alberto Moutinho e, a 8 de Dezembro, uma vez emancipada, casa com
ele, pelo civil, aos 19 anos.
Em
1914, apesar de algumas dificuldades económicas, o casal muda-se para o
Redondo, na Serra d'Ossa, onde abre um colégio e leciona. Numa festa do colégio,
Florbela recita, pela primeira vez, versos seus em público. É no ano seguinte
que Florbela inicia o seu caderno «Trocando Olhares», que completa ao longo de
cerca de um ano e meio. Em 1916, a revista «Modas e Bordados» publica o soneto
«Crisântemos», cheio de alterações ao original, e Florbela torna-se amiga da
diretora e da subdiretora da revista, Júlia Alves, com quem, aliás, inicia
correspondência. Alguns meses depois, torna-se colaboradora do jornal «Notícias
de Évora», e desiste de um projeto intitulado «Alma de Portugal», um livro de
acentuada carga patriótica, e que conteria as partes «Na Paz» e «Na Guerra».
Em
1917, após ter regressado a Évora, Florbela completa o atual 11º ano do Curso
Complementar de Letras, com catorze valores; apesar de querer seguir essa área,
acaba por se inscrever, em Outubro, na Faculdade de Direito da Universidade de
Lisboa, o que a obriga a mudar-se para Lisboa, onde começa a contactar com a
vida boémia. Na sequência de um aborto involuntário, em 1919, Florbela tem de
se mudar para Quelfes, perto de Olhão, onde apresenta os primeiros sintomas
sérios de neurose. Pouco depois, o seu casamento desfaz-se e Florbela decide ir
para Lisboa prosseguir o curso, separando-se do marido, e passando a conhecer a
rejeição da sociedade. Em Junho de 1919, depois de alguma correspondência
trocada com Raul Proença, sai a lume o «Livro de Mágoas»; posteriormente,
completa o terceiro ano de Direito. No ano seguinte, inicia «Claustro das
Quimeras»; simultaneamente, passa a viver com António Guimarães, em Matosinhos,
com quem se casa em 1921, após o primeiro divórcio.
De
volta a Lisboa, em 1923, Florbela vê publicado o «Livro de Soror Saudade», mas
tem de se mudar rapidamente para Gonça, perto de Guimarães, para se tratar de
um novo aborto. Assim, Florbela separa-se do marido, que pede o divórcio,
oficializado em 1924; isso leva a que a família de Florbela não lhe fale
durante dois anos, o que a abala muito.
Em
1925, depois de se ter mudado para a casa de Mário Lage, em Esmoriz, casa com
ele, pelo civil e, depois, pela Igreja. Dois anos depois, enquanto Florbela
traduz romances franceses para a Livraria Civilização no Porto (que publica
oito trabalhos seus), e prepara «O Dominó Preto», o seu irmão falece, o que a
torna uma mulher triste e desiludida e inspira «As Máscaras do Destino».
Enquanto a relação com o marido se desgasta progressivamente, a neurose de
Florbela agrava-se bastante; é neste período que, possivelmente, se apaixona
pelo pianista Luís Maria Cabral, a quem dedica «Chopin» e «Tarde de Música»;
talvez por isso, tenta suicidar-se. Em 1929, Florbela passa por Lisboa, onde
lhe é recusada a participação no filme «Dança dos Paroxismos», de Jorge Brum do
Canto, e segue para Évora, onde, em 1930, começa a escrever o seu «Diário do
Último Ano». Passa, então a colaborar nas revistas «Portugal Feminino» e
«Civilização», e trava conhecimento com Guido Battelli, que se oferece para
publicar «Charneca em Flor». Já em Matosinhos, Florbela revê as provas do
livro, depois da segunda tentativa de suicídio, em Outubro ou Novembro, período
em que a neurose se torna insuportável e lhe é diagnosticado um edema pulmonar.
A 8 de Dezembro, dia do nascimento e do primeiro casamento, Florbela
suicida-se, cerca das duas horas, com dois frascos de Veronal.
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