domingo, 8 de março de 2015

Feliz Dia da Mulher


Um ente de paixão e sacrifício,

De sofrimento cheio, eis a mulher!

Esmaga o coração dentro do peito,

E nem te doas coração, sequer!

 

Sê forte, corajoso, não fraquejes

Na luta: sê em Vénus sempre Marte;

Sempre o mundo é vil e infame e os homens

Se te sentem gemer hão-de pisar-te!

 

Se às vezes tu fraquejas, pobrezinha,

Essa brancura ideal de puro arminho

Eles deixam pra sempre maculada;

 

E gritam então vis: "Olhem, vejam

É aquela a infame!" e apedrejam

a pobrezita, a triste, a desgraçada!

 


Ó Mulher! Como és fraca e como és forte!

 Como sabes ser doce e desgraçada!

 Como sabes fingir quando em teu peito

 A tua alma se estorce amargurada!

 

 Quantas morrem saudosa duma imagem.

 Adorada que amaram doidamente!

 Quantas e quantas almas endoidecem

 Enquanto a boca rir alegremente!

 

 Quanta paixão e amor às vezes têm

 Sem nunca o confessarem a ninguém

 Doce alma de dor e sofrimento!

 

 Paixão que faria a felicidade.

 Dum rei; amor de sonho e de saudade,

 Que se esvai e que foge num lamento!

 

Deixa dizer-te os lindos versos raros

Que a minha boca tem pra te dizer!

São talhados em mármore de Paros

Cinzelados por mim pra te oferecer.

 

Têm dolência de veludos caros,

São como sedas pálidas a arder...

Deixa dizer-te os lindos versos raros

Que foram feitos pra te endoidecer!

 

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...

Que a boca da mulher é sempre linda

Se dentro guarda um verso que não diz!

 

Amo-te tanto! E nunca te beijei...

E nesse beijo, Amor, que eu te não dei

Guardo os versos mais lindos que te fiz!

 

Florbela Espanca

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